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Homens de honra x Educação
Situada nos anos 40, a história mostra as esperanças de Carl, filho de um lavrador humilde, em ser alguém na marinha. A sua única saída para a vida de pobreza acaba por ser o seu ingresso na marinha dos Estados Unidos. A atitude do menino é comovente, mas a do pai consegue ser ainda mais, quando este diz que ele deve ir para a escola para conseguir ser alguém. E é no seio desta família correta e honesta que Carl parte para lutar pelo seu objetivo. Leva do pai as recomendações ‘nunca desistir’ e ‘quebrar as regras quando for preciso’. Foram estas as palavras de que nunca mais se esquecera, mesmo nos momentos mais difíceis (e houve vários). Estamos nos anos cinqüenta e o racismo que corrói a sociedade americana também está presente de uma forma cruel no exército. Ao chegar no navio, descobre que os negros são recrutados somente para trabalhar na cozinha do navio. Soldado negro ou era cozinheiro, ou impedido de ser um oficial. A terceira opção era abandonar o exército, mas Carl tinha feito uma promessa ao seu pai e a sua honra estava em jogo. Carl tinha de ser o melhor entre os melhores. Desde muito novo gostava de nadar e de tudo o que tivesse a ver com a água. Banhos de mar, para os oficiais ‘de cor’, somente às segundas-feiras. Eis que Carl, um belo dia, resolve tomar banho fora do horário determinado e mostra aos superiores seus dotes como nadador. Após ser preso, consegue, com a ajuda do capitão Pullman uma vaga como marinheiro salva-vidas. É largamente discriminado mas a sua determinação supera tudo e todos.
Seu sonho, porém, é ser mergulhador na marinha. Após dois anos de tentativas, consegue chegar à escola de mergulho, comandada por Leslie Sunday (DeNiro). Lá, seguem-se as cenas de praxe, entre elas a que todos os outros recrutas deixam o alojamento no momento em que Carl entra. Claro que sobra para ele um amigo, o tímido e gago Snowhill. Não há dúvidas que o filme mostra Carl como a pessoa mais perfeita e determinada do mundo, além do melhor mergulhador que a marinha americana já teve. Mostra-se um excelente nadador e, depois de muitas contrariedades, acaba por entrar para a escola de mergulho da marinha, o primeiro negro a conseguir tal façanha.
Nunca se sabe, em filmes baseados em história real, o quanto há de verdade. Mas o preconceito não é atenuado pelo diretor do filme George Tillman Jr., que também é negro. A história começa pelo relato de uma vida exemplar, a de mais um americano pobre que luta pelo seu lugar ao sol, a que se junta o ônus do racismo, depressa dá lugar ao simplismo de uma história que se constrói basicamente à volta de duas personagens que se antagonizam em duelos psicológicos, o bom Carl, lutador persistente, e o mau Chief Billy Sunday, militar arrogante e preconceituoso. Mas o pior fica mesmo para o fim. Após perder uma perna em um acidente, Carl é obrigado a andar com uma roupa de mergulho com mais de 100 quilos para provar que ainda é capaz de continuar na profissão. E você pensava que sua vida era um calvário?… Nada mais depressivamente que isto.
Este filme acaba por valer o que valem estes dois atores (Carl e Sunday) e seus papéis neste filme demonstrados.
Sangue, suor e lágrimas é o que este filme tem para oferecer ao espectador. Quando acaba, prevalece um sentimento otimista, de motivação que dá uma certa carga positiva. É um filme que lembra alguns outros (poucos) onde a honra, a verdade, a hipocrisia e o cinismo se misturam e confrontam. Vemos a luta difícil por um sonho, uma carreira, pela dignidade de se ser pessoa, independentemente de cor, raça, religião ou sexo. É um filme que se segue atentamente e que devia acomodar algumas mentes acomodadas (até mesmo as nossas).
Durante nossa vida nos imaginamos numa série de balanços de trapézio. Ora nos seguramos numa barra, balançando para lá e para cá, ora por alguns momentos damos um impulso através do espaço entre trapézios. Quase sempre tentamos manter uma vida boa num ritmo firme e ficamos com a impressão de que temos controle da vida. Conhecemos a maioria das perguntas certas e até mesmo algumas respostas. Mas de vez em quando, enquanto alegremente (ou não tão alegremente) nos balançamos olhamos para frente, à distância, e o que vemos? Vemos outra barra de trapézio balançando em nossa direção. Está vazia, tem nosso nome; e era nosso próximo passo, nosso crescimento, a vida pulsante que vem ao nosso encontro. Precisamos largar a barra presente, tão conhecida em direção da próxima.
Cada vez que isso acontece, esperamos. Não importa que nos saiamos bem em todos os momentos. O importante é ir, mesmo com medo de errar, de se esborrachar nas pedras invisíveis no fundo do abismo entre as barras. Talvez seja a essência que os místicos chamam de experiência da fé. Sem garantias, sem redes, sem apólices de seguro, sabemos que temos de fazer isso porque, de algum modo, manter-se pendurada na velha barra já não faz parte da lista de alternativas.
Isso se chama transição e acreditamos que é o único lugar onde a verdadeira mudança acontece. Certo ou não, acreditamos que as transições em nossas vidas são lugares incrivelmente ricos, que deveriam ser homenageados, saboreados. Apesar do medo, sofrimento e do sentimento de estar sem controle da situação, que podem (ou não) acompanhar a transição, esses ainda são os momentos mais vivos, mais cheios de crescimento, mais apaixonados e expansivos de nossa vida. Então, transformar nossa necessidade de agarrar a nova barra é nos dar a chance de habitar o único lugar onde a transformação realmente aconteça. Pode ser até aterrorizante, mas também pode ser iluminador. Arremessando-se através do vazio, a gente aprende a voar. …Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer. Impossível ganhar sem saber perder. Impossível andar sem saber cair. Impossível acertar sem saber errar. Impossível viver sem saber viver. Se aprenderes a perder, a cair, a errar, ninguém mais o controlará. Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair, errar e perder. E isto você já sabe.
Trazemos presente o contexto, onde os cidadãos do planeta estão vivenciando um momento histórico que se caracteriza pela aceleração do tempo, pelo encurtamento das distâncias, pela fragmentação territorial e social, pela rapidez das informações, pela massificação da cultura, hegemonizada pela cultura ocidental, pelo simulacro, pelo contingente, pelo efêmero, pelo descartável. Estas são apenas algumas das inúmeras características da pós modernidade. Já que o processo de globalização é irreversível, devemos tirar proveito disto e fazer aquilo que nos é destinado, já que somos um só Povo, uma só Nação…
Temos muitos desafios pela frente e, nos parece, sempre os teremos, pelo dinamismo social e pelo avanço em todos os campos da vida. Mas nada como ter desafios, porque assim poderemos nos sentir estimulados a pensar o NOVO, sem menosprezar o que já passou e sem estigmatizar o futuro.
Um desses desafios, sem dúvida, está na escola, uma vez que a ela é dada um papel social relevante. E o é! Um lugar privilegiado de construção do saber, insubstituível.
Como educadores, precisamos defender nossas concepções. A Educação, pelo seu papel social, não pode eximir-se de firmar um compromisso sólido com a sociedade, no sentido de mostrar-lhe sempre novos caminhos, na busca de nossa dignificação plena.
A comparação desta situação com o filme vem nos dizer que a batalha, no dia-a-dia, na escola deve continuar. Mesmo com críticas, pouca valorização, o que conseguirmos fazer, enfrentar, defender, mudar, fará a diferença.
Infelizmente, vivencia-se outras situações, onde muitas vezes até o diálogo fica comprometido. Mas não podemos ‘fechar os olhos’ como se nada estivesse acontecendo. É preciso agir, com cautela sim, mas tomar providências para que aconteça a mudança. São momentos difíceis, que exigem firmeza, convicção, a busca de uma educação digna e esta deve passar primeiramente pela consciência dos educadores. Há muita resistência!
Aqueles rostinhos, cheios de expectativas, (ou até mesmo sem elas) cada um com sua história de vida, esperando encontrar na escola, algo a mais, que possa contribuir para viverem melhor e mais feliz, para compreenderem este mundo em que vivem e nele sentirem-se parte, serem sujeitos. São seres humanos, com os quais estamos trabalhando e interferindo positiva ou negativamente em sua formação. Vamos honrar nosso papel! Vamos assumir! Nos valorizamos para conquistar e construirmos nossa verdadeira identidade.
Caroline Tonin Cadorin*
*Pedagoga, Especialista em Planejamento e Gestão da Educação. Professora dos Anos Iniciais da Rede Municipal de Estação/RS e Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil e Anos Iniciais do Centro de Educação IDEAU – Colégio Santa Clara de Getúlio Vargas/RS.
Texto também publicado pelo Sinepe em: http://www.sinepe-rs.org.br/core.php?snippet=artigos_interna&id=17260